Militares que considero como exemplos
1) Marechal Rondon
O marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, nascido em Santo Antônio de Leverger, 5 de maio de 1865 – Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1958), foi um engenheiro militar e sertanista brasileiro, famoso por sua exploração de Mato Grosso e da Bacia Amazônica Ocidental e por seu apoio vitalício às populações indígenas brasileiras.
Foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e estimulou a criação do Parque Nacional do Xingu. O estado brasileiro de Rondônia recebeu esse nome em sua homenagem. É o patrono da arma de Comunicações do Exército Brasileiro.
Em setembro de 1913, Rondon foi atingido por uma flecha envenenada dos índios nhambiquaras. Foi salvo pela bandoleira de couro de sua espingarda.
Porém, ordenou aos seus comandados que não reagissem e batessem em retirada, demonstrando seu princípio de penetrar no sertão somente com a paz.
É de Rondon a poderosa frase, excêntrica para um militar: "morrer, se preciso for. Matar, nunca".
2) General Bevilaqua
Pery Constant Bevilaqua (Rio de Janeiro, 9 de junho de 1899 – Rio de Janeiro, 27 de abril de 1990) foi um militar e político brasileiro. Teve importante papel na chamada Campanha da Legalidade, cujo objetivo era garantir a posse do vice-presidente da República João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961.
Foi Ministro do Superior Tribunal Militar, posteriormente aposentado com base no AI-5.
Nacionalista e legalista, no comando da 3ª Divisão de Exército, foi o primeiro oficial general a defender o cumprimento da Constituição, durante a crise que se seguiu à renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, contrariando a posição dos ministros militares, que se opunham à posse do vice-presidente João Goulart.

A crise foi superada com a aprovação pelo Congresso, em 2 de setembro, de uma emenda constitucional que instituiu o parlamentarismo, garantindo a posse de Goulart.
Em 1965, foi designado ministro do Superior Tribunal Militar, permanecendo no cargo de 15 de fevereiro de 1965 a 10 de junho de 1969.
Durante este período sempre se manifestou contra os inquéritos policial-militares e contra o julgamento de civis por autoridades militares. Teve diversas discussões com seu colega de tribunal Ernesto Geisel que era generoso com militares e severo com a oposição.
Bevilaqua foi cassado em janeiro de 1969 com base no Ato Institucional Número Cinco, pouco meses antes de quando se aposentaria com 70 anos de idade.
Atribui-se a ele a frase: "quando a política entra no quartel por uma porta, a disciplina sai pela outra”.
3) João Cândido Felisberto, o Almirante Negro
João Cândido Felisberto, conhecido como Almirante Negro, foi o líder da Revolta da Chibata, um levante histórico que marcou a Marinha brasileira em 1910. Filho de ex-escravos, nasceu no Rio Grande do Sul em 1880 e ingressou na Marinha aos 14 anos. Apesar de sua origem humilde, destacou-se por sua inteligência e capacidade de liderança, tornando-se um marinheiro habilidoso e instrutor, dominando funções complexas a bordo dos navios.
Em novembro de 1910, a revolta eclodiu após o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes ser cruelmente açoitado com 250 chibatadas, mesmo com a prática oficialmente proibida desde 1890. A insatisfação dos marinheiros, a maioria negros e pobres, era motivada por castigos corporais, más condições de trabalho e alimentação, além do racismo. Sob a liderança de Cândido, cerca de 2.400 marinheiros tomaram quatro dos mais poderosos navios da esquadra, apontando os canhões para a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
O governo do presidente Hermes da Fonseca, pressionado, prometeu anistia aos revoltosos e o fim da chibata em troca da rendição. Após a entrega dos navios, porém, as promessas foram quebradas e uma repressão severa teve início. João Cândido foi expulso da Marinha e preso na Ilha das Cobras, onde enfrentou condições desumanas.
Sobrevivente da prisão, sua vida se tornou uma luta constante contra a perseguição e a miséria. Excluído e injustiçado, ele trabalhou como pescador e carregador, sofrendo a pressão da sociedade e da Marinha. A anistia a ele e aos outros revoltosos só seria concedida oficialmente em 2008, 39 anos após sua morte em 1969. Sua história, antes ignorada, é hoje reconhecida como um marco na luta por dignidade e contra o racismo no Brasil.
Desnecessário dizer que a Marinha brasileira tem João Cândido como uma sombra maldita que insiste em não se apagar. Em abril de 2024, o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, enviou uma carta à Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados com críticas ao projeto de lei que incluiria João Cândido, o Almirante Negro, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Em matéria publicada na imprensa para contrapor a homenagem federal, Olsen disse que, para a Força, a Revolta da Chibata (ou dos Marinheiros, como é chamada no documento), é um "fato opróbio [vergonhoso]" em que "abjetos marinheiros" desrespeitaram a hierarquia e a disciplina e usaram equipamentos militares para "chantegear a nação". O almirante (branco) afirma que "além do justo pleito de revogação da prática repulsiva do açoite", os marinheiros que participaram da revolta da Chibata "buscavam, deliberadamente, vantagens corporativas e ilegítimas", e que "(...) resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado", afirma o documento.
4) Carlos Lamarca
Carlos Lamarca, nascido no Rio de Janeiro em 1937, foi um militar que se tornou uma das figuras mais emblemáticas da luta armada contra a ditadura militar brasileira (1964-1985). Sua trajetória, marcada pela deserção do Exército em 1969 e a ascensão como líder guerrilheiro, ainda hoje desperta debates e paixões, sendo considerado um herói por alguns e um traidor por outros.
Lamarca ingressou no Exército Brasileiro e se formou pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1960. Durante sua carreira militar, participou de uma missão de paz da ONU no Canal de Suez, onde, segundo relatos, sua visão de mundo foi profundamente afetada pelas desigualdades sociais que presenciou. Ao retornar ao Brasil, aprofundou sua leitura de ideologias de esquerda, como as de Lenin e Mao Tsé-Tung. A indignação com o regime militar e suas políticas repressivas cresceu, culminando em sua deserção em 24 de janeiro de 1969.
Na ocasião, Lamarca desertou levando um grande arsenal de armas e munições, iniciando sua vida na clandestinidade. Juntou-se à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e rapidamente se tornou um dos seus comandantes, liderando diversas ações de guerrilha urbana. Entre as mais notórias, está o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, em 1970, cuja libertação foi trocada pela soltura de 70 presos políticos.
A deserção de um capitão do Exército causou grande abalo no regime militar, que intensificou a repressão e passou a considerá-lo um de seus maiores inimigos. A caçada a Lamarca e seu grupo se tornou implacável. Em 1970, ele liderou um foco guerrilheiro no Vale do Ribeira, em São Paulo, mas as forças de segurança desmantelaram a ação após uma intensa ofensiva.
Lamarca seguiu para a Bahia, onde pretendia estabelecer uma nova base de guerrilha. No entanto, após ter seu paradeiro descoberto, foi encurralado por uma vasta operação militar no sertão baiano. Em 17 de setembro de 1971, foi morto a tiros na região de Pintada, marcando o fim de sua intensa, mas curta, jornada como líder da guerrilha.
A figura de Lamarca permanece carregada de simbolismo. Para a esquerda brasileira, ele se tornou um mártir da resistência, um símbolo da luta contra a opressão e pela justiça social. Para o regime e seus defensores, ele era um traidor e terrorista.
Após a redemocratização, a questão de seu legado foi revisitada. Em 2007, a Comissão de Anistia reconheceu Lamarca como perseguido político, concedendo-lhe postumamente a patente de coronel do Exército e indenizando sua família. Essa decisão, no entanto, foi alvo de controvérsias e chegou a ser anulada em primeira instância em 2015. A dualidade de sua imagem reflete as feridas ainda abertas da ditadura militar no Brasil.
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